Olhares de Lírio

'Quando eu estiver mais pronta, caminharei de mim para os outros. O meu caminho são os outros. Quando eu puder sentir o outro a partir de mim mesma, estarei salva e compreenderei: eis o meu porto de chegada.' Clarice Lispector

terça-feira, outubro 24, 2006

Do Caqui e Arroz Doce

Na época da casa Azul, que ficava em uma praça cheia de esquinas, meu vizinho tinha uma certa fascinação com o Amado Batista. O hit Secretária me acordava, incomensuravelmente, às 6:00 da manhã, em meio ao calor e ao vazio, quebrando o silêncio tão desejado.

Minha resposta tinha que ser à altura: ou era Linkin Park estourando as caixas de som, ou Antrax, dos áureos tempos.

Meu irmão sol derrama, um dia, pelos quilomêtros de fios telefônicos a tão desejada rendição: De onde vem a calma - de uns caras cabeludos do Rio de Janeiro.

E assim foram os meses lá e a volta aqui. Esses dias, no trabalho que me consome todo o tempo que eu sigo tentando inventar, a tal banda veio à Brasília.
Eu esbarro num dos caras, o ruivo, e comento brincando sobre a música. Na hora do bis, em meio ao caos de eventos do primeiro dia, a música ecoou lá do palco, e me encontrou no meio da escada: Essa música vai para a moça.

Lavou a alma, cansada e atropelada pelo sem fim de desencontros.

Dia seguinte, para agradecer a reverência, a caixa dos doces prediletos dos meninos estava esperando no camarim. Caquis fora de época, arroz doce com gosto de sobremesa de avó.
Porque, naquele lugar, de onde vem a calma, todos somos simples, humanos, nômades e mortais.