Olhares de Lírio

'Quando eu estiver mais pronta, caminharei de mim para os outros. O meu caminho são os outros. Quando eu puder sentir o outro a partir de mim mesma, estarei salva e compreenderei: eis o meu porto de chegada.' Clarice Lispector

terça-feira, janeiro 12, 2010

De palavras e augúrios

Para 2010.

Que seja fluido, simples e repleto de surpresas.

May your coming year be filled with magic and dreams and good madness. I hope you read some fine books and kiss someone who thinks you're wonderful, and don't forget to make some art -- write or draw or build or sing or live as only you can.

May your coming year be wonderful thing, in which you'll dream both dangerously and outrageously, i hope that you'll make something that didn't exist before you made it, that you will be loved and that you will be liked, and that you will have people to love and to like in return. And, most importantly (because I think there should be more kindness and more wisdom in the world right now), i hope that you will, when you need to be, be wise, and that you will always be kind.

And I hope, somewhere in the next year, you surprise yourself.

Neil Gaiman - 2010 Benediction
Symphony Hall

quarta-feira, outubro 07, 2009

Das asas de anjos

Eu brinco que tenho um anjo, um desses, de contos de fadas.
E esse moço é manco, tonto de maresias, louco de outroras manhãs.
E ele me canta cartilhas, me conta cantigas, me encanta em carícias perdidas numa imensidão incorpórea.
E eu sigo, nos passos que não são dele, nem meus, porque não há outro instante, nem aquela desejada estrada.
Apenas os silenciosos calçamentos únicos que surgem trôpegos quando o pé arrasta o chão e desenha a pegada.
Não sou triste sem ele. Sou alheia sem minha própria alma, sem o derramar das palavras que inundam meu corpo e se desfazem nele.
O seio explode o peito que queria aquela calma.
A pele clama o toque que o desejo escondeu.
Os olhos mascaram a melancolia, e endurecem os sonhos, entre azuis e azares esverdeados.
O anjo menino ri, porque quisera chorar e não mais sabia, tendo perdido as lágrimas no breve despertar das estrelas na noite escura.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Das voltas da roda e o gosto do adeus

Deixei-me passear por aqui, onde não venho há algum tempo.
Talvez porque existam muitas e muitas letras clamando aos borbotões para serem derramadas e se tornarem reais.
Talvez porque eu não quero brincar de construir realidades neste instante.

Me descubro fitando um post do mesmo dia, ano passado, que acabou não publicado, contendo a exata música que me faz companhia e que desliza pelos meus sentidos, assumindo o significado das palavras.

E tudo flutua, nessa sensação estranha de vácuo.
Mas acho que o tempo disse que era hora e as estações mudaram.

Fiquei aqui pensando que eu tinha muito pra dizer. Mas escolho me calar.

E que venha o futuro.

When you try your best but you don't succeed
When you get what you want but not what you need
When you feel so tired but you can't sleep
Stuck in reverse.

And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone but it goes to waste
Could it be worse?

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

And high up above or down below
When you're too in love to let it go
But if you never try you'll never know
"Just what your worth"

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

Tears stream, down on your face
When you lose something you cannot replace
Tears stream down your face and I...


Tears stream, down on your face
I promise you I will learn from my mistakes
Tears stream down your face and I...


Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you.

Cold Play - Fix You

segunda-feira, maio 25, 2009

Das letras que entrelaçam

Eu gosto de letras.
Gosto desse espaço que se desvela em meio às obrigações do dia, ou ao silêncio da noite, incendiado pela lua, onde as palavras tomam forma e criam uma dança própria para expressar sentidos, sentimentos, sensações.

E elas se sentam, em roda, com uma grande fogueira ao centro, e se desnudam em costurar as histórias de instantes vividos, de encontros que virão ou que passaram, de vidas e almas que se tocam e se modificam, mesmo que apenas por um segundo, como se brincassem com pequenas peças de um lego gigante, multi colorido, que se molda ao tempo e ao universo e delineia os destinos de todos os homens.

E minha loucura por letras, vem da imaginação que me compõe e me arrebata com os fios desenhados pelas palavras. E eu consigo voltar no tempo, ou ansiar por um tempo ainda não presente, ou viajar para o longe, em um tempo que poderia ter sido meu e não fora, e deixar-me ali, mergulhada nas sensações, nos desígnios daqueles que participam daquele conto, daquela prosa, daquela poesia sem sentido, em forma de haiku, que o pescador descobriu de manhã, em uma aurora de recolher as redes que passaram a noite ao relento, a seduzir os peixes.

E daí vem sempre a minha brincadeira de roda, sobre o ser nerd ou ser geek. Sou indiazinha, que gosta das coisas ainda simples, ainda humanas, como o simples papel e caneta, o envelope que chega nas mãos do carteiro, e que cruzou quilômetros mil, apenas para trazer notícias de longe, desses pedaços de nossas almas que habitam nos outros.
Em contraponto, a rapidez da tecnologia, a fascinação da fantasia em contraste com a frieza e cinismo da realidade onde nos encontramos hoje, as línguas mortas, o romantismo puro e ingênuo, o conhecer delicado de outras épocas, onde apenas o resvalar dos dedos criava em si um turbilhão de emoções, a memória que me domina, o gosto de estrelas no céu da boca, me fazem diferente de outros, e me coloca nesta data , que criaram hoje, como dia do orgulho nerd, a me sentir em casa junto à estes que também se permitem enxergar este mundo por olhos reflexivos.

E vivo em dicotomia. Pois adoro a possibilidade de romper distâncias apenas com o toque do teclado, mas anseio pelas pequenas coisas que carregam muito mais significado, muito mais leveza, muito mais entrega: o cheiro do perfume, o som da voz, a pressão singular que a caneta deixou no papel, como marcas indeléveis que nem os mais sarcásticos pensamentos conseguiriam apagar. O gesto simples da flor roubada de um jardim, a folha de outono embrulhada em papel de seda, que trouxe a lembrança de conversas passadas, a pedra do jardim que se deseja construir junto, o ingresso da peça de teatro que tem o texto que um dia foi mencionado.

Tenho uma brincadeira, ou tinha, já que o tempo anda engolindo até mesmo esse meu pedido, de que os amigos me enviassem sempre um cartão postal das cidades onde estivessem. Pelo prazer de abrir a caixa postal e encontrar um beijo carinhoso, pelo encanto de sentir a dedicação na escolha da foto, nas letras desenhadas no ínfimo espaço, pelo carimbo do correio, que mostra o longo caminho percorrido, pela ação de pregar no mural o pequeno pedaço de papel, que carrega em si tanta significância, tanto amor, tanto entrelaçar de corações.

E brinco assim também com o pequeno. Mas confesso que nesta última vez, trouxe o papel e o envelope e me esqueci de colocar no correio. Tenho em casa um mural, com cartas escritas ao pequeno, diminutos momentos da vida do pai e da mãe, nestes dias que nos levaram para longe dele, de outras cidades, de outros afazeres, para que, ao aprender o segredo das letras, ele possa lê-las conosco, e perceber o quanto ele sempre nos acompanha em cada instante.

E eu vejo que eu mesma mudo. Eu mesma tenho me sufocado, tantas vezes, nessas teconologias simplistas, que vão matando o lirismo, desfazendo o encanto, a curiosidade, e expondo cada vez mais uma fantasia criada, um mundo de homens que não são, não sentem, não vivem, mas simulam um viver, um sentir, auxiliados pelas teclas e pelo cibernético espaço que nos assola.

Ok, estou divagando. Mas andei mesmo pensando nessas pequenas idiosincrasias do nosso cotidiano, que tem sigo esmagadas pela eterna falta de tempo, pela preemente necessidade de pressa, de velocidade, de ausência, cada dia mais clara, do simples, do instante de apenas contemplar a vista pela janela, e acompanhar o desenho das nuvens acariciando as constelações que riscam o céu.

Isso tudo para você tentar entender um pedacinho a mais de mim. Essa eterna disputa, o efêmero e o eterno, o mortal e o dionísico, o simples e o intrincado, as asas de alma e as asas de metal.

E como o presente chama, e cobra a presença de meus olhos, me desfaço dessas brumas que teço ao me permitir alçar vôos que me encantam, e toco de novo os pés na terra, que me enraiza, como minha tornozeleira e me segura neste instante e neste espaço.

Sopro um beijo de lírios entre os dedos.

segunda-feira, maio 18, 2009

Das entregas e dos laços

E, às vezes, eu me pego assim, meio aérea, meio fora do mundo, nestes raros e parcos momentos em que o ócio se deixa derramar pelas horas do dia.

E hoje fiquei tecendo e retecendo histórias que começam a tomar corpo. E que vem, como uma avalanche, sacudir a alma, aquecer o coração, derrubar defesas, construir pontes.

E para essas histórias que nascem, a música que me tomou em meio à tarde de nuvens cálidas, rememorando os conceitos de fé, energias, laços, entregas, crenças, e porto. Sempre esse porto que eu procuro dentro de mim, para onde sempre retornar.

God on high
Hear my prayer
In my need
You have always been there

He is young
He's afraid
Let him rest
Heaven blessed.
Bring him home
Bring him home
Bring him home.

He's like the son I might have known
If God had granted me a son.
The summers die
One by one
How soon they fly
On and on
And I am old
And will be gone.

Bring him peace
Bring him joy
He is young
He is only a boy

You can take
You can give
Let him be
Let him live
If I die, let me die
Let him live
Bring him home
Bring him home
Bring him home.

Bring Him Home - Les Miserables

quarta-feira, abril 29, 2009

Das asas dos anjos

Estou devendo a história do meu zippo, de 20 anos, que me arrastou a mais uma epifania sobre o desprendimento.

Mas, fugindo um pouco da proposta das letras que aqui moram, deixei-me arrebatar pelo lirismo ontem, e a sensação de retorno e pertencimento me mantém a sanidade:


Só porque eu me lembrei agora, nessas horas de silêncio, em que tudo parece mais tênue: eu não vou jamais conseguir entender o medo e a covardia das pessoas.
Porque o tempo é amigo, mas é inclemente. E a roda da vida não sabe parar para questionar limites. É tudo uma questão de momento. efêmero, único, volátil, que torna a vida mais simples, porque tudo se resume àqueles ínfimos instantes onde tudo faz sentido, explode em cores e se desfaz, como sonho, retomando o rumo.
E essa promessa de limites e medo sempre me destrói. Porque eu vou sempre acreditar naquele único instante que ficou perdido entre as palavras vazias.
E jamais me diga: é só isso que eu posso oferecer. Porque o mundo muda, porque podemos alcançar o impossível. E a covardia é a arma que me deixa sem ação.
E é sempre tão simples. Um único instante eternizado na memória. E a vida volta ao seu espaço real, sem antecipação, sem what if things were different. E era tão sutil o que eu queria.
Agora fica essa sombra que se transforma em um fantasma maior do que eu tenho forças. Passo a bola pro teu lado do campo.
E o relógio está correndo.

segunda-feira, junho 23, 2008

Dos beijos roubados

Dear Jeremy,

Ás vezes dependemos dos outros como um espelho.
Para nos definir e dizer quem somos.

E é esse reflexo que me faz gostar de mim mesma, um pouco mais.

Elizabeth