Olhares de Lírio

'Quando eu estiver mais pronta, caminharei de mim para os outros. O meu caminho são os outros. Quando eu puder sentir o outro a partir de mim mesma, estarei salva e compreenderei: eis o meu porto de chegada.' Clarice Lispector

terça-feira, setembro 26, 2006

De como inventar o tempo

Rotina toda nova.

Meus dons de coruja foram transmutados em dons de bem te vi, que acorda cedo para chamar o dia.

E tem a correria cotidiana de acompanhar as peripécias do Perigoso, que cada dia inventa uma nova graça, tentar mantes alguns pedaços da casa habitáveis, lembrar de colocar comida para o gato, sem fazer muita chacrinha, senão o Pequeno resolve provar a comida do monstro de olhos amarelos, ou sair atrás dele, puxando-lhe o rabo e balbuciando Au - au (já explicamos mil vezes que é gato. Mas venhamos e convenhamos, Pedro está com a razão - O Percival é definitivamente um gato com alma de cachorro). Fazer comida, dar banho, tomar banho com a Criatura esmurrando a porta, responder pela milésima vez que o papai tá no trabalho, pegar o trânsito, ver os outros pais correndo, puxando aquela renca de Trequinhos vestidos de azul e amarelo pela mão, a serem levados para as Tias legais que ensinam coisas divertidas.

Trabalho como sempre é uma loucura. Nunca dá tempo de nada, e tudo sai perfeito, conforme o planejado (por mais que o planejado tenha sido pensado cinco minutos antes da tempestade). Sei lá quantos mails, quantas ligações telefônicas, quantas pessoas com coisas importantes para apresentar e discutir.

Trânsito de novo, dessa vez com o Menino tomando Água durante o caminho e cantando Alecrim.

Chegar em casa, banho de novo, a mãe encharcada com a tentantiva do Pequeno em partilhar a sua alegria aquática. Assistir o Bode Van Gogh ensinando as cores e caçar o sono. Ou fugir dele correndo pela sala, com a chupeta na boca e a fralda na mão, brincando de esconder com Morpheus.

E ainda assim a gente inventa tempo. Tempo de ver todas as temporadas de SG1 com o marido, e redescobrir o quanto a gente gosta das mesmas coisas. Tempo de ler livros e livros, que se arrastam por semanas, às vezes um único capítulo por dia, antes de cerrar os olhos e afundar os cachos no travesseiro, mas que sempre contam histórias que acalentam a alma, que rememoram lembranças. Tempo de resgatar o contato com os amigos no telefone, que esses dias tem sido a mega ferramenta de aproximação.

E nesta invenção de tempo, acabei inventando a artesã. Com direito a grife e tudo, e prova de conhecimentos artesanais na próxima segunda feira, para conquistar a tão afamada carteirinha de profissão reconhecida.

Vale um post só sobre a grife e as artes que as mãos da moça inventam.
Fico devendo.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Das loucuras paternas

Três e meia da manhã. A babá eletrônica se manifesta com um choro fraquinho, mas insistente. Ela cutuca o marido, que tem o dom de levantar, fazer leite, trocar fralda, ninar o Pequeno e ainda voltar para a cama dormindo e não se lembrar do que aconteceu na madrugada. Nada. Afundado até o pescoço no reino dos sonhos e dos roncos. Ela sacode o moço de novo - Vai lá, amor, o trequinho tá chorando, deve ser pesadelo.

Os cobertores se mexem. Ela, em meio ao sono e a incredulidade, se depara com o digníssimo marido, deitado, mão para cima, estendida, aberta, balbuciando a invocação - Acalma o bebê, acalma o bebê. Levantar que é bom, nada. Em meio ao susto e a insanidade, ela sai da cama, correndo, entra no quarto, acha a chupeta, canta a música que fez para o filho, vê o sono chegar, o pesadelo sair correndo, a respiração acalmar. Coloca-o no berço, volta para o quarto, indignada.

Sacode o marido de novo: Amor, que que você tava fazendo? A voz carregada de lentidão e dormir vem com a afirmação assertiva: Tava invocando o deus da guerra e da justiça, Tomanak, para ele fazer o pequeno dormir.

É isso aí. Marido que lê David Weber e Oath of Swords, com os hradanis antes de dormir dá nisso.

terça-feira, setembro 12, 2006

Dos dias com gosto de passado e as Lonely Girls

São cada vez mais raros estes momentos.
Nos quais, em meio a plenitude, a moça fita o longe esperando por algo que não virá.
E tudo gira, em um carrossel de sentidos, mesclando o que completa, o que acende a vida, o que acalma o vento no porto, com o vazio naquele específico pedaço da alma.

E o eco que alcança este grito, ainda espera.

Stephanie stares at the posters on the wall
Tina sits and waits for a telephone call
Maxine mixes alcohol with polythene and paint
Sylvia stays in bed on her own
She can hear the cars outside
and wonders where they go
And if you call her answer phone
She'll get back to you one day

And lonely girls, lonely girls fill the world

Oh, Julia dreams while she's typing away
Jackie kills time while the company pays
Tracy still hears 808 ringing in her brain
Jane slaps paints on the walls of her home
Lydia sings when she thinks she's alone
Jean gets drunk and wonders home,
Through the car parks that need her change

Yeah, lonely girls, lonely girls fill the world

And they smile through the summer
And laugh in the rain
And sing through the winter
But never show the pain

Oh sometimes our lives are not what they seem
Sometimes things aren't like they are
in lifestyle magazines
We see what we want to see
In this miracle of clay

Well lonely girls, lonely girls fill the world


Suede - Lonely Girls